terça-feira, 15 de junho de 2010

Nas entrelinhas

É bom os políticos olharem mais de perto os movimentos do Partido Socialista do Brasil, o PSB. Ontem, ao aprovarem formalmente a coligação com o PT em âmbito nacional, os socialistas fizeram outros movimentos mais ousados. No plano estadual, por exemplo, a ordem é liberar as alianças de acordo com o que for melhor para o partido, fazendo uma ponte para o futuro com o PSDB e o PCdoB..

Em Alagoas, por exemplo, o partido apoiará a reeleição de Teotônio Vilela Filho ao governo. No Maranhão, ficará com Flávio Dino (PCdoB). O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que comanda o PSB, se referiu a Dino como alguém que “sempre foi do nosso campo”. Quanto a Teotônio, o PSB avisou que não seguiria com Fernando Collor por absoluta falta de afinidade. Também não apoiará Ronaldo Lessa, que saiu do partido brigado.

Embora o PSB esteja fechado com Dilma e pronto para arregaçar as mangas para elegê-la presidente da República, os exemplos acima marcam a diferença dos socialistas em relação ao PT. No Maranhão, o comando nacional petista obrigou uma parte da sua turma a abandonar Flávio Dino e seguir com Roseana Sarney (PMDB). E, em Alagoas, Collor é aliado ao governo Lula.

A marcação da diferença será ainda maior em Minas Gerais. Amigo do presidente Lula e do ex-governador Aécio Neves, o presidente do PSB deu sinal verde ontem para que seu partido reivindique a vaga de candidato a vice na chapa de Antonio Anatasia, candidato a governador pelo PSDB. Fechar com Hélio Costa seria mesmo impossível depois dos ataques recebidos pelo prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, durante a eleição municipal de 2008. Mas não foi bem a distância entre PSB e o PMDB de Hélio Costa que fez essa liberação.

Na hipótese de o PSB conquistar a vaga de vice na chapa de Anastasia em Minas estará selado o “Dilmasia” que os tucanos dizem não existir. E Aécio não poderá reclamar. Isso porque, no plano nacional, o PSB está fechado com Dilma. E no plano estadual, estará ao lado de Anastasia e de Aécio. Nada mais natural, portanto do que os socialistas fazerem campanha para os dois candidatos. Para completar, o nome que o PSB pretende apresentar para tentar obter essa vaga é o do ex-embaixador brasileiro em Cuba Tilden Santiago, que deixou o PT. Tilden foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Hoje, muita gente ainda olha para ele como se fosse do PT. Ou seja, será a ponte perfeita para empunhar a bandeira “Dilmasia” no palanque mineiro da oposição ao governo Lula.

A composição mineira traz ainda uma outra vantagem ao PSB: a aproximação definitiva com Aécio, que, no ano passado, foi convidado a ingressar no partido e não quis deixar o ninho tucano. Enquanto isso, no Nordeste, o deputado Ciro Gomes tenta reconstruir as pontes e reaproximar o governador Cid Gomes do senador Tasso Jereissati (CE).

O jogo do PSB em São Paulo indica ainda que o partido não quer mesmo ficar à sombra petista. Ao lançar Paulo Skaf ao governo e sair com uma chapa de candidatos a deputado federal puxada por Gabriel Chalita, Luísa Erundina e Márcio França, o PSB mostrou que está trabalhando para mudar de patamar na política. Afinal, só dá para sonhar com voos mais altos se obtiver um espaço ali ou em Minas. Neste momento, o PSB age para ganhar musculatura nos dois e, quem sabe daqui a quatro anos, sair sozinho, sem ter que retirar o candidato para cumprir um pedido do PT ou ficar fora da chapa principal, hoje ocupada por Dilma e pelo PMDB de Michel Temer. É por aí que o PSB arma seu jogo.

Enquanto isso, em Brasília…
Na eleição, como na guerra, cada um joga com as armas que tem. Do Planalto, saem recados diretos ao governador do Distrito Federal, Rogério Rosso. Chegou aos ouvidos palacianos que ele tem reclamado da chapa fechada entre o PT de Agnelo Queiroz e o PMDB de Tadeu Filippelli. Há até quem diga que Rosso deseja ser candidato. Se quiser, é bom saber que será com um caixa do GDF menor. O DF tem recebido recursos a mais do fundo constitucional porque o governo federal não tem descontado o Imposto de Renda. A conta está em R$ 1 bilhão e essa mamata deve acabar.

Por Denise Rothenburg

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