Temos hoje o maior contingente jovem da história do Brasil. Segundo o IBGE, em 1980, a população de jovens entre 10 a 29 anos somava 38 milhões e correspondia a 32% da população brasileira. Por razões de argumento, que explicitarei mais à frente, amplio aqui a faixa etária que denomino jovem para 10-29, diferentemente do conceito tradicional que utiliza a faixa 15-29. Em 2010, as estimativas são de que essa população de 10 a 29 anos seja de 66,5 milhões, o que representa 35% da população total. O número total de jovens, segundo essas estimativas, tenderia a se estabilizar, enquanto a população total seguiria crescendo. Em 2020, a porcentagem de jovens de 10 a 29 anos terá caído para 31% da população.
O processo de envelhecimento da população, que tanto preocupa a Previdência, está em pleno andamento, mas, até 2015, segundo dados da própria Previdência, mais da metade da população ainda terá até 30 anos no Brasil.
Pois bem, a participação da juventude na política tradicional – alistados como eleitores – diminui naquela faixa onde ela pode oscilar – jovens que têm 16 ou 17 anos – a partir daí o alistamento é obrigatório. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), houve retração, em 2010, de mais de 25%, do número de jovens de 16 e 17 anos alistados como eleitores, em relação às eleições de 2006.
Em uma avaliação rápida poderíamos concluir que isso significa uma opção da juventude por não participar da política nacional.
Em parte a conclusão é verdadeira, mas ela necessita de um complemento: os jovens estão optando por não participar da política como ela está organizada hoje e, se nada for alterado, no futuro de curto e médio prazos – as mudanças sociais são tão rápidas e profundas que qualquer menção a longo prazo em se tratando de jovens é irresponsável do ponto de vista intelectual.
Com os canais de participação engessados vertical – em postos de controle dos grupos organizados - e horizontalmente – em grupos de interesse corporativos e fechados-, a política tradicional exerce pouca ou nenhuma atratividade para o jovem contemporâneo, acostumado que está com a liberdade e a interatividade da era digital. A política tradicional não oferece espaço de expressão – pelo menos não na velocidade a que ele está acostumado. A caricatura do jovem que ouve uma música no seu Ipod, enquanto assiste a um filme, conversa no “messenger” e “tuíta” no seu “notebook”, em meio a uma reunião de amigos – onde intervém de tempos em tempos quando o assunto (que muda a cada três minutos) é de seu interesse, não é caricatura. É assim mesmo que funciona e é possível que você que esteja lendo este texto agora esteja também em uma sessão de bate-papo on-line. Se esse jovem pode fazer isso, porque ele iria procurar uma organização política tradicional?
Some-se a essa conjuntura tecnológica, existe a aparente falta de motivo suficiente para enfrentar toda a dificuldade (objetiva e subjetiva) da participação política tradicional. Não há mais polarizações agudas, ideologias a serem defendidas (usado aqui no termo popular da palavra ideologia), nem espaço para revoluções rápidas (quem acha que a revolução da informática é rápida não compreende muito bem o impacto de uma guerra – que em segundos pode transformar uma vida familiar pacata em um inferno para uma criança órfã em uma cidade destruída, ou, ainda, a supressão imediata de direitos fundamentais, incluindo a liberdade, de grupos inteiros de cidadãos). O movimento estudantil, ou ainda o movimento sindical, não chega a se configurar em substitutos para o turbilhão de vertentes, informação e demandas que alimentam a consciência individual do jovem do século XXI, liberado das amarras coletivas.
Um argumento possível é o de que nos diversos estratos sociais, os jovens podem ser sensíveis a diferentes conjuntos de idéias motivadoras. E isso é verdade. É possível que nos grupos de baixa renda, com pouco ou nenhum acesso aos benefícios da tecnologia da informação, esse apelo da liberdade seja menor e que a política tradicional ainda encontre espaço. O problema é que essa realidade tende a ser transformada em muito pouco tempo. Tanto em razão de políticas públicas de expansão do acesso à rede mundial de computadores, quanto do efeito propagador que a liberdade e a ânsia de liberdade têm na consciência dos jovens: mesmo aqueles que não tem acesso facilitado à internet, sabem ou têm noção de que é algo desejável e almejam esses benefícios. Ainda que a leitura não se aplique a todos os jovens, é uma tendência e é apenas questão de tempo para que essa abrangência aumente ainda mais.
Como, então, atrair essa imensa massa de jovens para a participação política consciente? E mais: como preparar esse grupo – e aí a importância de incluir aqueles jovens de 10 a 15 anos no montante total – para que, com suas individualidades tão desenvolvidas, possam atentar ao interesse coletivo. Será que a mão invisível vai funcionar tão bem, ou os problemas de apatia e descaso – que abrem espaço para que os aproveitadores e corruptos tomem conta da esfera pública – seguirão e, pior, se aprofundarão? Esses 35% da população, em 10 anos, definirá, no conjunto, os rumos do país. E eles não estão nos grupos organizados, que hoje formam as bases dos principais partidos do país.
Essas perguntas não têm respostas prontas, mas é necessário estar abert@ para uma mudança de paradigma. As novas tecnologias não são apenas uma nova plataforma para uma antiga forma de participação política. A mudança do suporte alterará necessariamente a natureza da participação, a começar pelo desenvolvimento de formatos de participação direta, imediata e livre dessa população nas decisões políticas. Consultas populares, contas e conteúdos abertos são apenas alguns dos novos formatos. Liderança efêmeras em lugar dos postos estabelecidos, valorização do conhecimento em detrimento do posicionamento são algumas outras novidades com que teremos de lidar. Serão muitos os erros, mas serão, com certeza, novos erros, nunca antes cometidos na história deste país. Acertos, muitos, já começaram a aparecer. Acertos para passarmos a enxergar os jovens como parte da solução e não parte do problema, como o movimento Cidades Democráticas. Visite em: www.cidadedemocratica.com.br
Rômulo Neves, diplomata e professor - pré-candidato ficha limpa
Para ler mais textos do Prof. Rômulo, acesse www.romuloneves.com
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