terça-feira, 15 de julho de 2008










O Assassinato do Movimento Estudantil
Por Fábia Pessoa

O movimento estudantil morreu no Brasil? Comparado com o ano de 1968, quando cerca de 100 mil pessoas foram às ruas após a morte do estudante Edson Luís, assassinado pela Ditadura no Rio de Janeiro, parece que sim. Edson foi baleado enquanto jantava em um restaurante para estudantes de baixa renda que vinham de outros estados. Diante da repercussão negativa causada pelo assassinato do estudante, os militares permitiram a manifestação que ocorreu no dia 26 de junho daquele ano. O acontecimento ficou conhecido como a Passeata dos Cem Mil, e reuniu estudantes, artistas, intelectuais e religiosos. Mas o golpe mais duro ainda estava por vir, tamanha mobilização causou um endurecimento ainda maior por parte dos militares. No mês seguinte, foi proibido oficialmente qualquer manifestação em território nacional. O AI-5 foi promulgado em dezembro de 68 e legalizou a repressão. Mas os estudantes ainda mostrariam trabalho inúmeras vezes.

Agora, em 2008, 40 anos depois da Passeata dos Cem Mil, assistimos nova mostra do poder dos estudantes. Durante 14 dias eles ocuparam o prédio da reitoria na Universidade de Brasília (UnB), exigindo o afastamento definitivo do reitor Timothy Mulholland. A ação dos estudantes foi motivada por uma série de denúncias que envolviam o nome do reitor em corrupção e uso indevido das verbas da instituição.

Marina Leite, estudante de Serviço Social da UNB e integrante do DCE, acredita que a ocupação foi fundamental para garantir que Mulholland renunciasse ao cargo. “ A ocupação causou grande repercussão nacional, recebemos diversas visitas, entre elas a do senador Cristovão Buarque e a do senador Eduardo Suplicy. Érica Kokay acompanhou a comissão de direitos humanos até o local para garantir que os estudantes tivessem pelo menos água e luz ali dentro”.

Quando questionada sobre o fato de o movimento estudantil ter morrido, a estudante foi enfática. “O jovem não é apático, mas o movimento não se faz com uma só pessoa. Precisamos de entidades representativas que defendam nossos direitos”.
A participação estudantil em manifestações sociais e políticas parece ter tido maior destaque em momentos históricos que eclodiram de vinte em vinte anos. Primeiro, em 1968, com a Passeata dos Cem Mil. Em 1984, eles foram às ruas pedir pelas Diretas Já. Depois, em 1988, com a luta democrática por uma nova constituição. Em 1992, pintaram os rostos e exigiram o Impeachment de Fernando Collor. E em 2008, com as explícitas demonstrações de repulsa em relação aos escândalos financeiros em que a Universidade de Brasília esteve envolvida.

Em momentos cruciais para a democracia brasileira, os estudantes parecem conseguir driblar os problemas decorrentes da falta de organização e estrutura. Durante a ocupação da reitoria, por exemplo, agremiações estudantis de todas as regiões do país vieram somar esforços para o afastamento do reitor, contando, inclusive, com a participação de estudantes de entidades privadas como IESB e CEUB. As assembléias realizadas na reitoria chegaram a ter mais de mil alunos presentes.
Mas nem só pela política se faz o movimento estudantil. O DCE do CEUB, fundado em 1989, procura solucionar os problemas dos alunos e contribuir em questões sociais. “O projeto Universidade Social distribui semestralmente 100 bolsas parciais. Em troca, os estudantes contribuem na formação de crianças e jovens da periferia”, afirmou Carlos Eduardo Guimarães, atual presidente do DCE do CEUB. Hoje, o grande objetivo do DCE do CEUB é promover a integração dentro do Campus. São 15 mil alunos em 25 cursos. O DCE também é responsável pela organização de palestras e congressos, eventos que, entre outras coisas, promovem o pensamento crítico. A idéia é formar além de bons profissionais, pessoas preocupadas com a situação do país e com o bem estar do próximo.
Amanda Lavor, estudante do curso de jornalismo do Unicesp, tomou a iniciativa e está começando a constituir um DCE na instituição. Ela acredita que uma entidade que represente os estudantes é fundamental para facilitar o diálogo entre direção, professores, alunos e comunidade. “Durante a confusão entre os sócios, se existisse um DCE, os alunos não teriam ficado tão perdidos. Teríamos quem nos representasse, quem nos dissesse como agir, eles seriam nossos olhos e ouvidos. Acabamos confusos com a série de informações desencontradas”, afirmou a futura jornalista.
Amanda avalia as possibilidades de implementação de um Diretório Central de Estudantes junto à direção do Unicesp. Neste primeiro momento a estudante procura mobilizar os estudante para participarem da criação de uma entidade que realmente os representem.
O movimento estudantil no Brasil não morreu, ele apenas busca outras maneiras de contribuir com a sociedade. Nos dias de hoje, onde as pessoas se tornam cada vez mais individualistas, mesmo as pequenas iniciativas devem ter seus méritos reconhecidos. O que falta, nos jovens é a consciência em relação à força que possui um movimento coletivo.

http://universidadesnagrua.blogspot.com

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